terça-feira, 27 de julho de 2010

Consciência, classe e consumo

Minha avó faz feira todos os domingos, lá ela compra todas as frutas, verduras e hortaliças necessárias para o consumo de cinco pessoas adultas durante uma semana. Quanto de resíduo sólido não orgânico ela gera em sua compra? E você, quanto gera individualmente?

Não preciso dizer que cada vez mais “o mundo” tem atentado para as questões ambientais. De sacolinhas de compras até políticas internacionais, o tema não deixa de ser a bola da vez. Conceitos como “sustentabilidade” não sai de pauta e ganha cada vez mais adeptos, seguidores e, principalmente, investidores.

São inumeráveis os avanços já realizados e muito há de ser feito e mudado, porém esta questão esbarra em milhares de outras crenças, culturas e valores. A necessidade de “desenvolvimento” e “progresso” são paradigmas que estão em um processo dinâmico, apresentando certas alterações. Porém, a distinção pelo consumo parece não apresentar mudanças. Qual é o seu celular? Ele acessa as redes de relacionamentos? Não? Como assim?

Por isso existe a turma do consumo consciente. A pregação de consumir o mínimo possível. De certa maneira posso dizer que faço parte desta “comunidade”, mas tenho minhas ressalvas. Primeiro é muito importante demarcar de onde vem essa “ideologia” (ops! Que medo deste palavrão – para quem compartilha do medo substitua a palavra por “ideia”). Tenho certeza que não é da Dna. Maria, empregada doméstica, nem mesmo do Seu Clenio que parcelou a tv de plasma para assistir aos jogos da Copa. Tenho certeza que os discursos elaborados e articulados vêm de um grupo que paga de Regina Duarte, “eu tenho medo”. Medo do fim dos tempos? Creio que não, medo de não distinguir-se do Seu Clenio e da Dna Maria, já que os filhos do casal fazem faculdade, todos da família tem um celular, o filho roda de carro e a filha está terminando o cursinho de inglês. Cada quarto da casa tem uma tv, um dvd e um aparelho de som.

Não me interpretem mal, aliás seria uma honra se o fizessem. Adoro que me interpretem mal, assim me dão mais espaço para me explicar. Voltando, como meu sábio amigo W. T. L. sempre diz “agora que podemos comprar, a classe média e alta, pseudointelectualizada diz que não é bom e que não é legal”. Não dá para não pensar em Bourdieu. A disputa por distinção não foge do campo simbólico. “Eu sou uma pessoa consciente, customizo minhas roupas, consumo o mínimo, pois sei a verdadeira importância da frugalidade”. Ai que maravilha!

Proponho que reflitamos sobre como as distinções estão sendo feitas. Não apenas sobre o que cada um consome, ou simplesmente com medo “da nova classe C” - carinhosamente chamada de “Geração Lula”, mas pensando com profundidade sobre essas complexas relações, consumos e habitus.

Questões como essas não têm respostas prontas, fechadas e claras. “Didáticamente” vale a pergunta: quem é quem nesta terra de ninguém?

Referência: Pierre Bourdieu, Sociólogo Francês ma-ra-vi-lho-so! Ele sim foi um Cientista Social

Fonte da imagem: www1.ctbc.com.br

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